O globo – Ela / Janeiro 2013

Marina Lima detalha sua paixão pela moda em livro

Ela também conta que não está preocupada em ser considerada A cantora e que posar na Playboy aumentou sua autoestima

Marina Lima posou para o ELA caracterizada como a estilista Coco Chanel. A matéria foi publicada em 2 de novembro de 1985 Foto: Josemar Ferrari / Josemar Ferrari

Marina Lima posou para o ELA caracterizada como a estilista Coco Chanel. A matéria foi publicada em 2 de novembro de 1985JOSEMAR FERRARI / JOSEMAR FERRARI

 

RIO – Com o passar dos anos, Marina Lima se tornou “mais seca e de poucas palavras”. É o que a própria cantora confessa em seu primeiro livro, “Maneira de Ser”, lançado em novembro, pela editora Língua Geral. Mas pelo menos um aspecto de sua personalidade continuou intacto: a paixão por moda – particularmente por sapatos. Por muito tempo, ela só conseguia montar seu look a partir do que colocava nos pés.

São inúmeras as demonstrações do envolvimento da cantora com o universo fashion. Em 1985, ela incorporou Coco Chanel em um ensaio publicado pelo Ela (uma das fotos ilustra a nossa matéria). Nessa mesma época, começou a alisar os cabelos crespos – graças a um produto milagroso, descoberto por um cabeleireiro amigo. Para a turnê de “Sissi na Sua”, que marcou sua volta ao palco após um hiato razoável, Marina desembolsou R$ 20 mil em uma calça Gucci de canutilhos, toda feita à mão. Isso sem contar com a sua admiração confessa por Constanza Pascolato.

O título de seu livro de estreia não poderia ser mais apropriado. Mas, apesar do tom confessional de algumas passagens, não se trata de uma autobiografia. A obra, que reúne crônicas, entrevistas, recortes de jornais, mostra mesmo um modo “de ser” e de pensar. A cantora conversou com o Ela Digital:

Como é a sua relação com a moda?

MARINA LIMA: Eu gosto muito de moda. Era algo que queria abordar no livro. Fiz inclusive um ensaio para o Ela na década de 1980. Lembro que estava com medo porque era uma coisa muito nova pra mim. Nunca tinha feito algo que não fosse eu mesma. E ali, eu tinha que personificar a Chanel. A minha mãe ficou superorgulhosa quando viu. Foi muito marcante.

E qual é o seu estilo hoje?

MARINA LIMA: Sou despojada. Mesmo que eu esteja arrumada para uma reunião, quero me sentir à vontade. A roupa tem que casar com a minha personalidade. As coisas rendem melhor quando eu consigo falar o que eu penso. Qualquer peça que esteja apertando, me tolhe. Aí não dá.

É você quem cuida dos figurinos que usa nos seus shows?

MARINA LIMA: Eu tenho um gosto muito meu para o dia a dia, mas não cuido dos figurinos. Prefiro chamar alguém para fazer isso porque é mais uma contribuição. Sinto mais facilidade para trabalhar em equipe. Antigamente, as pessoas eram mais egocêntricas. Um diretor cuidava de tudo, até do figurino. Hoje, temos especialistas para cada departamento. Se você junta um time bom, o resultado fica incrível. Mas é claro que eu dou uma direcionada.

Sapatos são mesmo seu ponto fraco?

MARINA LIMA: Descobri que este é um fetiche de quase todas as mulheres. Hoje, depois dos 50, às vezes eu começo a me vestir de cima. Mas durante anos, eu começava pelos sapatos. Eles definiam o estado de espírito que a roupa teria. O último que comprei foi em Berlim. Tenho 1,63m e não uso muito tênis. É mais para malhar mesmo.

Você alisou os cabelos nos anos 1980. Não gostava dos seus fios crespos?

MARINA LIMA: Meu cabelo era crespo e hoje nem é tanto. Acho que tem a ver com a idade ou com a quantidade de coisa que eu fiz para ele ficar liso. Meus irmãos tinham cabelo liso, e eu queria ter também (no livro, Marina conta que Cicero brincava que ela tinha sido adotada). Eu acabei tendo que entender meu cabelo, para saber lidar com ele. Tive que aprender a usá-lo crespo e como torná-lo atraente e bonito. Quando surgiram produtos bons, que não deixavam com a cara de escorrido, eu aderi.

Em entrevista recente, você declarou que posou nua para aumentar sua autoestima. Funcionou?

MARINA LIMA: Deu certo sim. Porque eu estava muito fechada. Não sei nem te descrever em quê. Eu estava quase uma múmia, cinzenta. O doutor Arnaldo (Goldenberg, o psiquiatra de Marina na época) me ajudou a me puxar para fora. E eu nunca deixei de malhar, sempre fui muito ligada em exercício físico. Então, não tive problema com o meu corpo. A minha dificuldade toda é de me relacionar com o mundo.

No livro, você afirma que “com o tempo se tornou mais seca e de poucas palavras”. Isso tem a ver com maturidade, receio ou amargura?

MARINA LIMA: Isso tem a ver com temperamento. Eu sempre fui mais contida. Nunca fui uma pessoa de excessos. Com o tempo, vi que não precisava me expressar sobre tudo. Eu gosto do jeito do Chico (Buarque), da Fernanda (Montenegro)… São pessoas mais contidas, você não os vê se derramando, mesmo com os assuntos mais sérios. São elegantes, não necessariamente sérios. Eu gosto disso e fui cultivando isso também.

O diretor Marcio Debellian, que te ajudou na organização de “Maneira de ser”, define o livro como um “caderno de afetos”…

MARINA LIMA: A obra tem a ver com a minha vida, com coisas que eu achei que eram importantes compartilhar, para as pessoas me conhecerem melhor. Busquei neste momento dividir acontecimentos que tornaram quem eu sou.

Quando surgiu seu interesse pela escrita?

MARINA LIMA: Eu já tinha escrito várias crônicas e artigos para jornal. Eu sabia que gostava. Além disso, meu irmão (Antonio Cicero) é poeta e eu sempre gostei de poesia. Letra de música é outra coisa, mas é tão bela quanto poesia. Eu componho muito na cabeça. Só coloco a letra no computador quando ela já está pronta na minha mente, quando eu começo a sentir que faz sentido.

Você enfrentou problemas com a voz. O que aconteceu, afinal?

MARINA LIMA: Não é mais problema para mim. Quando cancelei os shows (na época do disco “Abrigo”, de 1995), não era por causa da voz. Era porque eu não conseguia nem respirar. Até eu entender que podia ser uma coisa física, foi difícil. Tinha a ver com a questão emocional também. Eu canto ainda, mas não estou preocupada em ser A cantora. Gosto é de traduzir as canções que faço ou que eu gostaria de ter feito. Para isso, a voz está bem aqui, colada no coração.

Sente falta de morar no Rio?

MARINA LIMA: Estou em São Paulo há quase três anos. Eu sou carioca. Mas teve um momento que ficou muito na moda o carioca dizer que é sangue bom, que o Rio é isso e aquilo, o que me dava um pouco de vergonha. Não gostava de ver a gente se reafirmando o tempo todo. A nossa cidade é tão bacana e tão importante que não é preciso falar. Eu sinto falta do Rio, sim, da topografia, do mar, do ar… A coisa mais difícil aqui é o ar. O fato de você não ver o mar não é a questão mais importante. Paris e Londres, por exemplo, não têm. São Paulo tem uma questão de saúde que os paulistas não merecem. Se o Rio conseguiu pacificar os morros, São Paulo tem que conseguir melhorar o ar. Mas, sinto saudades de olhar o Rio.

Quais são seus planos para 2013?

MARINA LIMA: Vou fazer uma pequena exposição do livro seguida de um show no Rio, no Imperator, no dia 16 de janeiro. Além disso, quero realizar duas coisas. O Candé Salles filmou um documentário comigo há uns três anos. Ele me acompanhou procurando apartamento, filmou o show “Climax”. Queremos lançar o filme. E o Marcio (Debellian) quer criar um show do livro.

http://ela.oglobo.globo.com/vida/comportamento/marina-lima-detalha-sua-paixao-pela-moda-em-livro-7227282

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